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Alumni Além Fronteiras: Sérgio Santos
04-05-2021

Sérgio Santos tem 37 anos e é natural do Porto. Formou-se em Engenharia Mecânica no ISEP, em 2007, e regressou para frequentar o mestrado. Vive em Woking, uma cidade em Surrey, perto de Londres, e assume o cargo de Principal Engineer – Interior na McLaren Automotive. Sente que está a realizar um sonho a nível profissional. Coordena uma equipa responsável pelo desenvolvimento dos sistemas de interior nos automóveis, desde a fase de conceito até à integração nas linhas de produção, de todos os modelos da marca. Nos tempos livre, não dispensa o exercício físico ao ar livre e a descoberta de algumas cidades do Reino Unido.

- Como surgiu o interesse pela engenharia?

Desde muito cedo senti que a Engenharia, em parceria com certos ramos da ciência, me despertava imensa curiosidade. Quando chegou a altura de escolher um percurso optei por um curso técnico e, claro, a partir daí foi mais do que natural seguir esse percurso.

- Porque escolheu o ISEP?

O ISEP tem uma vertente prática que sempre me atraiu e que se adequava ao que sempre achei fundamental para um desenvolvimento profissional mais abrangente. Esta forma de encarar o ensino, aliada a um forte conteúdo teórico, é algo que diferencia o ISEP no enquadramento universitário do Porto.

- Recorda algum docente ou colega durante o percurso no ISEP?

Destacaria Armando Vilaça, Raul Campilho e Paulo Ávila, que sempre demonstraram muita disponibilidade e vontade de ajudar os estudantes a desenvolver aptidões e capacidades. Pessoalmente, o que mais me marcou foram os colegas de curso. Durante os anos que estive no ISEP, tive a oportunidade de fazer bons amigos e que nunca esquecerei.

- Que bases e competências-chave adquiriu ao longo da formação e que aplica hoje no seu dia-a-dia profissional?

Toda a minha carreira profissional se enquadrou no desenvolvimento de produto e isso pressupõe um conhecimento sólido a nível de materiais, tecnologias e processos de fabrico, sem nunca ignorar o impacto durante as etapas de produção em massa, de cada decisão durante o design mecânico dos sistemas. Isso é parte integrante do curriculum da licenciatura no ISEP. Contudo, provavelmente, a competência mais fulcral adquirida durante o meu tempo de formação é a capacidade de questionar, de perceber que existe uma lógica e que o resultado correto nem sempre é o primeiro a aparecer.

- Como foi a transição da Bosch para a McLaren Automotive?

A Bosch é uma multinacional com uma história única, na qual eu já trabalhava com outras localizações europeias. Por isso, a nível de língua, de mindset e excelência em engenharia, foi uma escola incrível. Isso destacou-se imediatamente a nível de conhecimento base quando integrei a McLaren, embora, inicialmente, a transição tenha sido um pouco difícil devido às exigências do setor automóvel (particularidades a nível de legislação e a velocidade com que o desenvolvimento tem de ser feito para atingir os objetivos de introdução no mercado).

- Que grande diferença cultural encontrou em comparação a Portugal?

A cidade onde estou a viver fica a cerca de 30 minutos de Londres, que por si só congrega um conjunto de culturas e influências muito variadas, por isso, muito honestamente, não senti grande impacto. Comparando com o que é possível viver atualmente no Porto, Londres tem, evidentemente, uma dimensão maior, mas assemelham-se em muitos fatores. Talvez o que mais se destaca é a cultura existente a nível de pubs e de restauração, visto que cá é bastante comum socializar depois do trabalho e, normalmente, jantar algo ligeiro em casa, o que cria uma padrão de horários bastante diferente do que existe em Portugal.

- O que mais o motiva no seu trabalho?

Pertencer a uma empresa como a McLaren é algo, ainda, um pouco surreal. É fascinante acompanhar e ser responsável por todas as etapas de desenvolvimento de um automóvel. Principalmente quando falamos de modelos como o 720S, 600LT, McLaren GT, Senna, Speedtail, Elva, que pertencem a um setor do mercado ainda mais especializado (em que alguns modelos podem, facilmente, atingir os £2m).

E isto é apenas relativamente à marca em si. Obviamente existe também o lado inerente ao trabalho com veículos super/hiper desportivos, que envolve trabalhar com matérias primas e processos que não são tão comuns (como crototipagem, fibra de carbono e titanium), assim como a oportunidade de definir alguns aspetos que integram os futuros modelos da marca.

- Imagine que tinha um livre-passe para fazer aquilo que quisesse…

Conseguir passar um ano numa longa viagem a alguns destinos mais longínquos, incluindo os menos turísticos.

- E se pudesse mudar algo no mundo…?

Em termos mais generalizados, acho que é bastante crítico o ambiente de intolerância com tudo e com todos, sem que, por vezes, haja qualquer fundamento para tal. Acho que mudaria isso mesmo, a intolerância que nos rodeia mundialmente.

- Que mensagem gostava de deixar aos futuros engenheiros do ISEP?

Que acreditem e percebam que tudo se trata de uma viagem de aprendizagem. O ISEP proporciona um plano curricular único que permite desenvolver ferramentas essenciais no mercado de trabalho, mas, no final, o que conta é o desenvolvimento pessoal e a forma como cada um utiliza essas mesmas ferramentas e se adapta, molda e continua a aprendizagem. O ISEP fornece bons e sólidos alicerces, mas o desejo de evolução e melhoria deverá ser uma constante no decorrer da carreira profissional.